Detalhe do nível intermediário da fachada da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco em Salvador |
A introdução do maneirismo no Brasil representou o lançamento da pedra angular da história artística dos descendentes de europeus. Descoberto pelos portugueses em 1500, o Brasil era habitado por povos indígenas, cuja cultura tinha ricas tradições imemoriais, mas era diferente da cultura portuguesa. Com a chegada dos colonizadores, os primeiros elementos de uma dominação em larga escala começaram a ser introduzidos.
Devido ao fato de que a implantação da civilização portuguesa no Brasil começou do zero, havia condições escassas para um florescimento cultural ao longo de quase um século. Assim, quando começaram a surgir os primeiros testemunhos artísticos de algumas figuras brasileiras, quase exclusivamente localizadas no campo da arquitetura sacra e de sua decoração interior, o maneirismo já estava em declínio na Europa, sendo sucedido pelo barroco no primeiro semestre. do século XVII. No entanto, devido principalmente à atividade dos jesuítas, que foram os missionários mais ativos e empreendedores, e que adotaram o maneirismo quase como um estilo oficial da Ordem, resistindo muito em abandoná-lo, essa estética poderia se expandir abundantemente no Brasil, influenciando outros ordens.
No entanto, a parte mais cultivada da colônia foi o estilo Chão, com características austeras e regulares, fortemente baseada nos ideais classicistas de equilíbrio, racionalidade e economia formal, em contraste com outras correntes em voga na Europa, que eram muito mais irregulares, anticlássico, experimental, ornamental e dinâmico. O modelo básico da fachada e em particular o plano baixo da igreja jesuíta foi o padrão mais duradouro e influente na história da construção religiosa brasileira, sendo adotado em grande escala e com poucas modificações até o século XIX.
O Estilo Chão também teve um profundo impacto na construção civil e militar, criando uma arquitetura de grande homogeneidade em todo o país. Quanto à decoração de interiores, incluindo talha dourada, pintura e escultura, o maneirismo experimentou uma permanência muito mais curta, desaparecendo quase por completo a partir de meados do século XVII, ocorrendo o mesmo nos campos literário e musical. Apesar de uma presença tão marcante, grande parte das igrejas maneiristas foi descaracterizada em reformas posteriores, sobrevivendo hoje um número relativamente pequeno de exemplos em que as características mais típicas da arquitetura Chã ainda são visíveis. Suas decorações internas, assim como os testemunhos na música, sofreram um destino ainda mais dramático, perdendo-se quase na sua totalidade.
Arquitetura
Fachada da Igreja dos Santos Cosme e Damião em Igarassu, Pernambuco - templo católico mais antigo do Brasil |
Interior da Igreja da Graça, Olinda. Percebe-se o plano básico de nave única com uma capela-mor rasa ao fundo e dois nichos com altares secundários nas laterais. Neste exemplo a nave é ladeada de nichos para altares delimitados por arcos. |
Igrejas: primeira fase
Devido ao caráter sagrado da grande maioria dos edifícios maiores erigidos na colônia, a influência da estética cultivada pelas diferentes ordens religiosas foi decisiva para a conformação do maneirismo arquitetônico brasileiro, tendo nos jesuítas e, até certo ponto, representantes mais ativos. O primeiro núcleo de atividade importante foi o Nordeste, destacando-se as cidades de Olinda, Recife e Salvador. Um pouco mais tarde núcleos foram formados no Rio de Janeiro e São Paulo. Os jesuítas formaram uma Ordem caracterizada pela grande cultura geral e pelo pragmatismo e adaptabilidade de seus membros aos contextos locais. Os seus edifícios adoptaram como modelo básico a vertente maneirista portuguesa conhecida como Arquitetura Chã, caracterizada pela funcionalidade e adaptabilidade a múltiplos usos, facilidade de construção e custos relativamente baixos, podendo ser praticada nos mais variados contextos, servindo tanto aos interesses da Igreja como do Estado Português, numa altura em que ambos estavam intimamente ligados através do sistema de mecenato, sendo os religiosos agentes importantes na organização e educação da sociedade e também no processo de construção do império ultramarino.
Em 1577, os jesuítas enviaram ao Brasil o padre Francisco Dias, renomado arquiteto, com o objetivo de dar aos templos brasileiros a dignidade que ainda lhes faltava. Ele era um seguidor de Vignola e Giacomo della Porta, italianos famosos cujo estilo agradou a corte e que participou da construção da Igreja de Jesus em Roma, que se tornou um modelo para uma miríade de outros templos jesuítas em todo o mundo. Dias. Dias deixaria o trabalho em várias partes do Brasil, entre elas a reforma da Igreja de Nossa Senhora da Graça, Olinda.
Igrejas: segunda fase
Um segundo estágio desenvolvido a partir de meados do século XVII, após as dificuldades iniciais terem sido superadas, quando o território já possuía uma vida própria significativa, enriqueceu e passou a desenvolver uma cultura autóctone diferenciada da metrópole, já com muitos artesãos e nativos artistas em atividade. No entanto, o Estado Português ainda tinha como interesse primordial a exploração econômica da colônia, e pouco investido em melhorias, assistência social, arte e educação, continuando a colocar na Igreja as principais responsabilidades de educar as pessoas, cuidando delas. os órfãos, as viúvas e os velhos, para registrar os nascidos e enterrar o falecido, continuando a dominar grande parte da vida brasileira e, além disso, como foi desde o início, o grande patrono cultural, já que a grande maioria dos projetos artísticos, grandes ou pequenos, permaneceram no campo sagrado.
Catedral de Salvador |
Igreja de Santo Alexandre em Belém |
Igrejas: Terceira Fase
A última fase do Maneirismo Arquitetônico se desenvolveu principalmente em Minas Gerais na primeira metade do século XVIII, quando ocorre o ciclo do ouro e a região torna-se um grande centro econômico, político e cultural. Mais recente área da cidade, seus primeiros monumentos construídos ainda seguem o modelo da Arquitetura Chã em sua austeridade e aderência às linhas retas, embora os interiores já estejam decorados em estilo barroco. Bons representantes são a Catedral de Mariana e a Matriz de Sabará.
O maneirismo arquitetônico ainda experimentaria uma longa sobrevivência no Brasil, embora sua influência tenha passado por certo declínio a partir da segunda metade do século XVIII, dando lugar ao barroco e ao rococó.
Igrega da Sé - Mariana - MG |
Outras tipologias
Os edifícios militares, onde se destacam as fortificações, foram outro campo em que o barroco foi amplamente ignorado, com os princípios da Arquitetura Chã dominando a simplicidade, o desprendimento ornamental e a adaptabilidade. Suas características específicas favoreceram isso, já que, em relação a esses edifícios, as principais preocupações eram sobre funcionalidade e eficiência, sem grandes considerações estéticas.
Música
Praticamente nada foi salvo da música praticada nos primeiros dois séculos de colonização, exceto referências literárias. Através deles, sabe-se que a música, especialmente vocal, era parte integrante do culto religioso e foi cultivada com intensidade. Na esfera profana também esteve presente em todos os momentos, tanto em cerimônias públicas como no recesso do lar, mas ainda menos se sabe sobre esse aspecto do que sobre a música sacra. Por outro lado, existem registros citando a prática da música polifônica nas principais igrejas, que já tinham coros e conjuntos instrumentais estáveis a partir do século XVII. os impedimentos canónicos, em Portugal desenvolveu-se um estilo paralelo exuberante e artificial, que possivelmente teve reflexos também nas práticas brasileiras.
Escultura e douradura
Contrastando com as austeras fachadas da arquitetura Chã, os interiores das mais importantes igrejas e conventos puderam ser decorados com grande luxo, incluindo estatuária, pinturas e talha dourada. No entanto, pouco resta da primitiva decoração maneirista nesses lugares, em sua vasta maioria distorcida por reformas posteriores ou totalmente perdida. Na escultura, traços de um classicismo quase só aparecem na produção inicial de estatuária sagrada, caracterizada por sua solenidade e estaticidade, por rostos com expressão impassível, e pelas roupas que caem suavemente no chão, que contrastam com os padrões agitados e dramáticos. do barroco do século XVII em diante. A coleção sobrevivente é pequena e quase sempre feita de barro, e as peças são pequenas. Sua caracterização como parte do maneirismo é controversa e, em geral, essa produção é analisada como um proto-barroco. De qualquer forma, as imagens criadas por João Gonçalves Viana e pelos religiosos Frei Domingos da Conceição da Silva, Frei Agostinho da Piedade e seu discípulo Frei Agostinho de Jesus, ativos entre os séculos XVI e XVII.
Também estão incluídos na categoria de escultura os relevos arquitetônicos que ainda permanecem em portais de terrenos, igrejas e conventos, dos quais uma boa ilustração é a primeira página do Pacto de São Pedro do Clero em Recife, mas o exemplo mais significativo está na Igreja da Ordem Terceira de San Francisco de Salvador, um caso absolutamente único no Brasil pela extraordinária riqueza ornamental de sua fachada, mostrando afinidades com o estilo plateresco, uma vertente do maneirismo espanhol, que alguns críticos identificam como um proto Barroco. Seu único estilo estilístico, muito menos rico e exuberante, é a Igreja de Nossa Senhora do Guia em Lucena, na Paraíba.
Pintura e Gráficos
Outras categorias em que escassos testemunhos sobrevivem são a pintura e as artes gráficas. Os primeiros viajantes e exploradores freqüentemente tinham designers e gravadores em suas expedições, encarregados de fazer o registro visual da fauna, flora, geografia e povos nativos. Entre eles podemos citar Jean Gardien, ilustrador do livro Histoire d’un Voyage faiter en terre du Brésil, autrement dite Amerique, publicado em 1578 por Jean de Léry, Theodor de Bry, ilustrador do livro Duas viagens ao Brasil de Hans Staden. e o padre André Thevet, provável ilustrador de seus três livros científicos publicados em 1557, 1575 e 1584. As gravuras desses artistas mostram traços maneiristas em sua representação dos corpos humanos.
Também sobrevivendo em várias igrejas e conventos há vários painéis e tetos de pintura decorativa, incluindo alguns em azulejos, que revelam uma transição para o estilo barroco, derramando-se em profusos motivos vegetais em intrincados entrelaçamentos, reminiscentes de decorações platerescas, intercaladas com símbolos religiosos , images of saints and other figures, as exemplified by the important sacristy ceiling of the Church of Santo Alexandre in Belém do Pará.Outro grande exemplo, um Maneirismo muito puro, é o teto da sacristia da Catedral de Salvador, derivado do declive grottesco da inspiração romana, com uma série de medalhões inseridos no entalhe, com molduras florais e retratos de santos e mártires jesuítas. Centro.
No caso da pintura sobre azulejos, é quase invariavelmente ornamental, sem cenas figurativas, ou no máximo com pequenas figuras espalhadas entre ricos padrões de motivos vegetais ou geométricos, no chamado “Estilo Tapete”, feito com uma paleta de cores. limitado a alguns tons. Essa telha era geralmente aplicada como uma barra no fundo das paredes do corredor e ao redor dos claustros do pátio do convento, nos interiores das igrejas e, mais raramente, em residências particulares e prédios públicos.
Literatura
O contexto paupérrimo dos primeiros tempos coloniais condicionou e limitou a produção literária brasileira ainda com maior intensidade do que nas outras artes. Não havia escolas além das escolas de padres, e o estudo era praticamente limitado à alfabetização básica e à catequese religiosa, o analfabetismo era amplamente divulgado, a imprensa era proibida há muito tempo, a circulação de livros era muito pequena e passava invariavelmente pelo escrutínio do governo censura, sendo em geral romances de cavalaria, catecismos, almanaques e lunários e alguns dicionários e tratados de Direito, Legislação e Latim, não houve produção de papel, e até a língua portuguesa se estabeleceu em grande escala até meados do século XVIII.
Pelo contrário, eles eram principalmente falados em línguas híbridas de línguas portuguesas e indígenas,o que combinou para tornar a cena literária local quase inexistente. Depois dos grandes precursores ativos da segunda metade do século XVI, os jesuítas José de Anchieta, autor de crônicas históricas, gramáticas, autos sagrados e poemas, e Manuel da Nóbrega, autor do Diálogo sobre a Conversão dos Gentios e um rico epistolar, no século XVII começam a aparecer outros escritores, entre eles Bento Teixeira, autor de Prosopopeia, o primeiro épico brasileiro, o poeta Manuel Botelho de Oliveira, o jesuíta António Vieira, expoente da prosa sagrada, e Gregório de Matos, grande autor da poesia sagrada, lírica e satírica. Apesar de abordar temas locais, o seu trabalho continua a ser uma extensão direta da literatura portuguesa.
Aula para o período: 22 a 24 de abril
Aula para o período: 22 a 24 de abril
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