O QUE É A EDUCAÇÃO FÍSICA??
OBS: ATIVIDADE NO FINAL DO TEXTO
Considerada como cultura do físico, constituindo-se como parte da
Medicina, criadora de sofisticadas técnicas esportivas, vinculadora de
ideologias. Afinal, o que é Educação Física? O que não se discute é o seu
compromisso em estudar o homem em movimento. O que também se aceita é
a ginástica, o jogo, o esporte e a dança como instrumentos para cumprir os
seus objetivos. Talvez o que esteja faltando seja a elaboração consciente e
adequada desses objetivos. E mais, como desenvolver essas atividades. Não
se discute, também, - independente do ângulo do observador, que a Educação
Física existe em função do homem, enquanto ser individual e social.
Nessa
medida, é cultura no seu sentido mais amplo, fertilizando o campo de
manifestações individuais e coletivas. É transmissora de cultura, mas pode ser,
acima de tudo, transformadora de cultura. Incorpora conhecimentos da
Medicina, mas ninguém será capaz de considerar o professor de Educação
Física como aquele que cura. A tecnologia esportiva produz campeões e
recordes inacreditáveis, mas em sã consciência - e em corpore sano -, não
podemos aceitar que essa é a sua missão precípua.
Deve haver alguma coisa, em algum ponto, que dê sentido a essa
práxis, revelando uma identidade genuína. Isso mesmo. A impressão é de que
a Educação Física perdeu, ou não chegou a possuir, uma verdadeira
identidade. E o agente de toda essa ação, o professor, envolvido num
emaranhado de opções, corre de uma escola para uma academia, desta para
um clube, então para outra escola.
E daí? Por que faz tudo isso? Deveria haver
um móvel - além da sobrevivência - que o levasse de um lugar para o outro.
Quais são as suas expectativas? Qual deveria ser a sua função na sociedade?
Sua atuação quase sempre reflete atitudes formalizadas, mecanizadas. O que
não oferece dúvida, é que a Educação Física se ressente de um engajamento
filosófico a orientá-la em direção às suas finalidades.
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A Educação Física e o Indivíduo
O início de nossas reflexões deveria recair sobre uma questão que
sempre foi transcendental para o homem: ele mesmo. Quem é esse homem
que se movimenta, desde a pré-história, pelos mais dignos ou estranhos
motivos? Desde cedo, vários pensadores formularam hipóteses acerca da
existência de um lado imaterial no ser humano. É o chamado homem interior.
Mesmo os que aceitavam essa possibilidade especulavam em relação a uma
justaposição (atomismo) ou uma interatuação (holismo) entre o material e o
imaterial no homem. Alguns estabeleciam um abismo entre a mente e a
matéria, outros viam o homem como unidade psicossomática, onde o corpo e a
mente formavam um todo indivisível.
Para fins analíticos, podemos observar o
ser humano sob os seus diversos aspectos - afetivo, psicomotor e intelectual.
Não devemos aceitar, porém, o fato de, isoladamente, qualquer desses
componentes manter-se incólume à ação dos demais.
Admitindo o ser humano existindo como um todo, transparece a
idéia de que o professor de Educação Física não pode, mesmo desejando,
tratar apenas do físico das pessoas. Seria impossível, nessa perspectiva.
Desaparece definitivamente a imagem do "educador do físico".
A sua ação explícita é sobre o corpo, sem dúvida. Mas os benefícios
extrapolam o corporal. Nessa medida, falham os currículos que se preocupam
essencialmente com as matérias biomédicas e as técnicas esportivas,
desprezando o estudo da Filosofia e da História, entre outras. Em vários
cursos, essas disciplinas existem, mas quase sempre relegadas a um segundo
plano, como assuntos irrelevantes e descartáveis. Essa discriminação aliena a
Educação Física de alguns dos seus propósitos mais autênticos, fazendo-a
assumir uma postura dogmática, acrítica, onde o discurso sobre o homem
torna-se fragmentado e secundário.
Não pretendemos excluir o desenvolvimento da aptidão física das
preocupações da Educação Física. Nem o desenvolvimento de habilidades
motoras por intermédio dos jogos e esportes. Correríamos o risco de
descaracterizar a profissão.
O fundamental é que se compreenda que essas
atividades são meios e não fins. À medida que o desempenho esportivo,
materializado pelo recorde, passa a encher os olhos dos alunos, professores e
administradores, os valores mudam de direção. O que devia ser meio
transforma-se em fim. Essa cegueira pedagógica assume proporções
inaceitáveis. Um bom exemplo são as escolas que oferecem bolsas de estudo
para atletas de um clube, fazendo-se representar por uma equipe de alto nível
em campeonatos escolares. Nessa escola, esporte não é Educação Física.
Imaginemos qual o tipo de motivação que os alunos têm em suas aulas,
conhecendo as barreiras intransponíveis para jogar nas equipes
representativas. Alguém pode argumentar que a competição esportiva não é o
único - nem o principal - objetivo da Educação Física. Nessa escola, porém,
será o único que receberá todas as honras.
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Em relação à ginástica, alguns modelos ainda sugerem
massificação, na medida em que não respeitam as características e limitações
individuais. O conhecido "1, 2, 3, 4" ainda reflete preceitos recomendados há
quase um século. Esse mecanicismo não atende à sagrada individualidade das
pessoas, coisificando-as. Uma verdadeira agressão ao eu. A mesma carga de
trabalho, todos realizando os mesmos exercícios da mesma forma, começando
e terminando na mesma hora. Essa tendência à uniformidade contribui para o
desestímulo da prática da ginástica, pois sacrifica os menos aptos e não
satisfaz os bem preparados. A Educação Física tem de respeitar os níveis de
maturidade motora, a capacidade de rendimento e os interesses individuais.
São pressupostos para que a ginástica seja Educação Física. Caso contrário,
não passará de adestramento físico.
A Educação Física e a Inteligência
Atualmente, muito se fala em escolas para desenvolver o raciocínio.
A idéia é bem antiga, e já na época de Sócrates (século V a.C.) encontramos
esse objetivo como fundamental no processo educativo. A própria maiêutica
socrática era um método que se propunha a levar o discípulo a descobrir a
verdade: era a arte de fazer nascerem as idéias.
O homem, enquanto ser total, não pode prescindir da inteligência
nas suas ações, inclusive motoras, é muito difícil - senão impossível -
estabelecer limites entre a aprendizagem motora e a intelectual. Quando
acontece a primeira, seguramente está ocorrendo a segunda. A atividade
física, havendo de ser aprendida, não pode ser considerada unicamente no
plano motor. Apresenta também valores intelectuais.
A integração físico-mente (material-imaterial) surge de inferências
feitas desde a pré-história. Há três ou quatro milhões de anos, apareceu o
primeiro ser bípede (homo hábilis), possivelmente o primeiro exemplar de quem
hoje chamamos homem.
O saudoso Cagigal, um dos maiores pensadores da
Educação Física contemporânea, considera o fato como o inicio do processo
de tecno-intelectualização do homem. Tecno-intelectualização não representa
a adaptação da inteligência a uma determinada técnica, mas o processo de
intelectuaiização integrado à ação. Uma autêntica revolução tem início quando
as mãos são liberadas do solo. O homem começa a construir ferramentas. Não
se tem certeza de que a liberação das mãos aconteceu em virtude da
necessidade de construir ferramentas, ou se esta necessidade promoveu
aquela liberação. Quem nasceu primeiro, o ovo ou. . .? Não importa. Vale a
constatação de que o processo de desenvolvimento da inteligência humana
sempre esteve em constante comunhão com o movimento. Atualmente já não
se considera como inteligência a simples capacidade de compreensão. A
criatividade seria a manifestação suprema de inteligência. A própria
inteligência. A moderna tecnologia é capaz de reproduzir eletronicamente
várias faculdades humanas (observação e memória, por exemplo), menos uma:
o poder criativo. Este só se deve esperar do homem. Através do
desenvolvimento desse potencial, as pessoas encontram-se consigo mesmas,
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ao mesmo tempo que se habilitam a estabelecer relações com o meio
ambiente. O excesso de tecnicismo (gerador de hábitos) afasta a Educação
Física de sua fundamental participação no desenvolvimento da inteligência
(criatividade).
No momento em que, pela ginástica ou pelo esporte, as
atividades são baseadas na repetição, não está havendo mais Educação
Física.
Em aulas - principalmente nas escolas, onde é pecado mortal - o
professor está sempre pensando no lugar do aluno. Se uma corda é estendida
na quadra e a tarefa consiste em "passar para o outro lado", imediatamente o
professor pede que o façam com um pé, depois com ambos os pés, saltando e
girando no ar, ou passando por baixo. Estão sendo dadas as possíveis
soluções do problema que era dos alunos, e não do professor. Em lugar de
ordens, deveríamos facilitar descobertas: "Quem consegue passar para o outro
lado da corda?”.
A Educação Física e a Afetividade
O fanatismo "científico", característico dos nossos dias, considera
que apreciar atitudes, idéias e traços de caráter seja um modo pré-científico de
analisar o comportamento humano. A tendência comportamentalista
("behaviorista") opõe-se ao estudo das teorias preocupadas em explicar os
processos mentais e que admitem a existência daquele "homem interior" ao
qual já nos referimos. Considera que o importante é o comportamento
manifesto, ou seja, o "homem exterior". Ao pesquisar personalidades,
propósitos e intenções, considerando-as como atributos de um "homem
interior", não se estaria dando um passo à frente na abordagem "científica" do
comportamento. O que precisaria ser explicado é o "homem exterior". Afinal, foi
à imagem deste que o "homem interior" teria sido criado. Os
comportamentalistas admitem a existência de processos mentais superiores,
mas não vêem no comportamento que se manifesta uma dependência do que
acontece no interior do organismo humano. Objetivamente, este
comportamento observável será formado pelas contingências de reforço (o
efeito de alguma coisa sobre a pessoa) que, aplicadas acidental ou
deliberadamente, modificam o comportamento. Recomendam a criação de uma
tecnologia do comportamento - e o planejamento da própria cultura - que
possibilite alterações expressivas na conduta humana.
Os reflexos das teorias behavioristas extrapolam as paredes dos
laboratórios freqüentados por ratos, pombos e cães. Transmitem uma visão do
mundo onde as pessoas seriam meros espectadores de uma cena dirigida por
alguns poucos, conhecedores do que é melhor para os demais.
A Educação,
de um modo geral, sofre as conseqüências dessa cosmovisão. Desprezando
interesses, sentimentos, atitudes, emoções e valores, distancia o aluno da sua
realidade existencial, numa concepção antidialética dessa existência.
Carl Rogers, um dos maiores opositores dessas idéias, considera
que a aprendizagem convencional opera a nível puramente intelectual,
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situando-se, conforme expressão muito feliz, "do pescoço para cima": é a
aprendizagem de sílabas sem sentido (baz, ent, nep, arl) ou exercícios de
memorização sobre fatos e datas históricas. Levantar um braço não tem
significado, a menos que o levantemos para saudar um amigo, lançar uma bola
ou tocar em algum objeto. Inspirados na imagem que Rogers criou, podemos
afirmar que, em Educação Física, a aprendizagem opera "do pescoço para
baixo". Para cima ou para baixo, o mais importante é a negação da totalidade
do homem.
Nas aulas de Educação Física, desenvolver as qualidades físicas é,
sem dúvida, um dos objetivos mais importantes a serem atingidos. Quando
desejamos enfatizar a qualidade física chamada resistência aeróbica,
imprescindível para os corredores, pedimos aos alunos que corram em torno
da quadra. Voltas e mais voltas desenvolverão, por certo, a resistência
almejada. Esse exercício, porém, carece de significado. Além de não promover
um envolvimento intelectual e afetivo, em que circunstância essa tarefa será
repetida? É fácil constatar que as pessoas só correm em círculos nas aulas de
Educação Física! Por isso mesmo, todas as vezes que, durante uma aula,
pedimos a adultos para correrem, eles imediatamente o fazem em círculo,
embora haja bastante espaço e esta sugestão não tenha sido dada. Estão
condicionados. Correr em círculo é um exercício com tão pouca significação -
principalmente para crianças - quanto correr no mesmo lugar ou correr para
trás, que contrariam os objetivos inerentes ao ato da corrida. Seria o mesmo
que nadar sem água ou jogar voleibol sem bola.
É preciso que os exercícios físicos não sejam o fruto da pura
imitação mecânica; só assim a Educação Física passará a estimular a
inteligência, não embrutecendo o indivíduo, é importante que as pessoas se
movimentem tendo consciência de todos os seus gestos. Precisam estar
pensando e sentindo o que realizam. É necessário que tenham a "sensação de
si mesmos", proporcionada pelo nosso sentido cinestésico (propriocepção),
normalmente desprezado. Caso contrário, estaremos diante da "deseducação
física".
A Educação Física e a Sociedade
As escolas e os meios de comunicação quase sempre trabalham
para produzir - como numa fábrica - indivíduos "adaptados" à sociedade a que
pertencem. As pessoas são formadas (ou deformadas) para exibir um perfil
dependente, acrítico e submisso. O restabelecimento dos laços que
identificam o homem com a sociedade implica, inicialmente, a identificação
deste homem consigo mesmo. A Educação Física pode participar neste
processo, criando ambientes favoráveis para alguém tornar-se, realmente,
pessoa.
Implantada por militares em diversos países, a Educação Física
objetivava unicamente o treinamento físico-militar, necessário à sua formação.
Esse espírito foi, nesses países, transferido para o meio civil. Neste, primeiro
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foi ministrada pelos próprios militares e, posteriormente, por civis. Estes não
consideraram a inadequação dos métodos militares à prática educacional,
criando uma tradição de rigidez disciplinar que não se coaduna com o ambiente
civil.
O professor de Educação Física passou a assumir o papel de preparador
físico, incorporou às suas aulas exercícios de ordem unida e tornou-se um
"disciplinador por excelência".
As funções da Educação Física, porém, não se esgotam no seu
relacionamento com o indivíduo. Este não deve ficar isolado do contexto no
qual está inserido, pois corre o risco de se transformar num simples paciente
(agora no sentido social) das forças que interagem à sua volta. A Educação
Física, apesar de ser uma atividade essencialmente prática, pode oferecer
oportunidades para a formação do homem consciente, crítico, sensível à
realidade que o envolve. Mas pode, também, gerar o conformista.
Inúmeras passagens históricas ilustram a utilização da Educação
Física como meio de adaptação dos indivíduos ao pensamento dominante. Um
dos exemplos mais enfáticos é o da formação de associações civis destinadas
a "prestar culto à pátria". São bem significativos os modelos do tipo "Juventude
Hitlerista", "Juventude Brasileira", "Mocidade Portuguesa", "Juventude
Comunista" etc., criados na primeira metade do século. Essas instituições
tinham, oficialmente, a finalidade de proporcionar educação cívica, moral e
física aos cidadãos.
Longe de pretender uma autêntica participação social, os
seus objetivos eram, principalmente, ajudar a implantar um clima de
passividade social. Não propiciavam oportunidades para o desenvolvimento de
mentes críticas. Existiam apenas para massificar consciências, unificando-as
de acordo com os interesses dominantes. A educação cívica não nascia de um
comprometimento do indivíduo com interesses comunitários. Era a
subserviência às normas arbitrariamente estabelecidas pelo poder. A educação
moral não emanava do convívio grupal. Era imposta sob forma de disciplina
moral. A Educação Física não era propriamente educação, era adestramento,
vigor físico. Cultura do físico.
Não é somente pela coação que a Educação Física pode atuar na
sociedade. A cooperação é um canal que, adequadamente utilizado, ajuda na
formulação de valores significativos para o grupo social. O jogo é a forma mais
simples e natural para o desenvolvimento de um sentimento grupal, é o
elemento da cultura que contém maiores possibilidades para sociabilizar (tornar
sociável) e também socializar (estender vantagens particulares ao grupo). No
jogo, a administração do choque de interesses individuais acontece numa
atmosfera liberal. O jogo, enquanto ação livre, oferece reais oportunidades para
o exercício da democracia. A dinâmica do jogo permite a emergência de
valores genuínos, em lugar daqueles que, normalmente, são impostos.
Sintetizando os conceitos de cultura e educação, seria o instrumento ideal para
a vinculação do indivíduo à sociedade. O Esporte para Todos seria a
manifestação, na Educação Física, dos ideais da Educação Permanente: a
Educação Física Permanente. Desvinculado do esporte formal, não é um
espaço para o surgimento de "talentos" esportivos. Dispensa paternalismos,
dependendo de recursos criados pela própria comunidade.
A Educação Física Permanente é a tendência nobre da Educação
Física atual. Infelizmente, as coisas são boas ou más dependendo do uso que
delas se faz. O Esporte para Todos pode desviar-se dos seus objetivos quando
atende a outros interesses, que não os da comunidade. Nesse caso, acontece
uma total inversão de valores. Atendendo a exigências do mercado
consumidor, elitiza a prática esportiva. Utilizado como apoio para o esporte de
alto nível, formaliza-se. Contagiado ideologicamente, serve para camuflar
realidades sociais e obstrui a ação comunitária
REALIZAR A LEITURA DOS TRECHOS DO LIVRO : O QUE É EDUCAÇÃO FÍSICA. E DESCREVER A IDÉIA DO AUTOR SOBRE A TEMATICA EM QUESTÃO POR TÓPICOS
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