Em prosseguimento ao conteúdo , o texto abaixo traz informações sobre
a Gênero e
Dança. Alguns assuntos
,como este, não será possível compreender sem leitura e discussão por
isso o texto é um pouco
extenso.Procure ao iniciar a
leitura concentrar-se, procurando um
local da casa com menos interferência
de ruídos possível. Evite
ouvir música e responder
mensagens. Leia com atenção e
responda a atividade ao final do
texto. Não esqueça de ao enviara
atividade colocar as
devidas identificações : nome
completo e turma
além de colocar
as perguntas e
respostas e deixar
no caderno.
Caso envie
em forma de imagem verifique se está
nítida e Encaminhar para o email lucianadps888@gmail.com.
Duvidas
podem ser enviadas pelo email ou
pelo watsap no privado . não deixe de enviar também as atividades
em atraso. Lembrando que elas
são a forma de validar a sua
presença na disciplina.
Introdução
Gênero é mais
entendido por muitos povos como, a diferença entre homens e mulheres, meninos e
meninas. Gênero é entendido como a construção social que uma dada cultura
estabelece ou elege em relação a homens e mulheres (SOUSA; ALTMANN, 1999).
Parando para
observarmos os fatores que mais gera a feminilidade são as formas de tratamento
de como as mesmas são tratadas dentro de suas casas, os sentimentos maternais,
atividades desenvolvidas dentro de casa (domésticas), formas de falar com mais
carinho e afetividade com gestos femininos. Quando se fala do homem, é sempre
mais visto como o ser de coragem, o homem de mais força, capaz de exercer
funções que não mais é apropriada para as meninas e nessa concepção se enquadra também os
movimentos corporais alguns ditos
inadequados para um sexo
ou para outro ambos.
Louro (1992)
afirma que todo movimento corporal é distinto para os dois sexos, e muitos
movimentos e posturas são socialmente impostos para um e para o outro sexo, as
noções de feminilidade e masculinidade são construções sociais desde o
nascimento da criança.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
também evoluiu nessa concepção determinando
que o
objetivo para ambos os sexos
é serem capazes de: “participar de atividades corporais, estabelecendo
relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando
características físicas e de desempenho de si e dos outros, sem discriminar por
características pessoais, físicas, sexuais ou sociais” (PCN’s, 1997).
Nesse contexto refletir sobre a
dança e gênero nas
é de fundamental importância pois a
dança além de ser uma
manifestação corporal muito
antiga agrega a sua prática
benefícios a saúde
a qual idade e gênero.
1.
Refletindo sobre dança e Gênero
A dança muito
das vezes é tido como movimento corporal que deve ser exercido somente por
meninas, mas a dança pode ser considerada uma possibilidade de expressão devido
aos seus métodos criativos e expressivos. A dança na vida dos homens
primitivos tinha uma diversidade de significados como: dançava-se para imitar o
ritmo da natureza, dançava-se para comemorar a colheita, saudação aos deuses,
comemorações de casamentos, passando por vários momentos de transformações em
conjunto com a sociedade, que hoje, tem a dança como opção de lazer e aspectos
profissionais (NANNI, 1995).
A mesma
contribui para a socialização do indivíduo, levando a criança a compreender
suas capacidades de movimento, passando assim a entender melhor como funciona o
seu próprio corpo, desenvolvendo suas expressões, criatividades tornando assim
elas seres mais capazes de socializarem no meio em que elas vivem (meio
social).
A nova visão da
dança, em seu aspecto cultural, é um conteúdo indispensável na escola, pois sua
contribuição é favorecer a formação da cidadania, tornando nossos alunos
cidadãos críticos sensíveis e conscientes de suas ações na sociedade (BARRETO,
2004).
Grande fonte de
expressão corporal a dança deve ser bem trabalhada para que haja um grande
desenvolvimento das potencialidades humanas, devido a seus métodos criativos e
expressivos. É também grande fonte de riqueza quando tratamos de costumes e
culturas entre os povos, fazendo com que as pessoas conheçam e aprendam
culturas diferentes (SILVA, 2007). A dança pode unir povos, descobrir culturas
e acabar com preconceitos pequenos, quando voltados assuntos sobre questões de
gêneros. A escola é uma das bases para essa transformação, para isso ela deve
iniciar uma luta contra esse preconceito em que a dança é algo somente para
meninas.
Apontamentos
da dança - Historia
Segundo vários
estudos, a dança chega a ser é tão antiga quanto a nossa vida humana, dança
esta que nasceu de expressão, emoções primitivas, nas manifestações e nas
comunhões místicas entre homens com a natureza. Como ainda não sabia falar o
homem utilizava das expressões corporais para expressar suas emoções e assim fazia
presente em vários rituais místicos e acontecimentos de sua vida.
Como ser social
e religioso, o homem sempre sentiu a necessidade de se comunicar com seus
semelhantes e com os poderes sobrenaturais, e para isso, antes de dominar a
linguagem e antes então da expressão oral o meio de excelência de comunicar
notícias, idéias e sentimentos, recorreu ao próprio corpo para estabelecer
contato com as divindades, prestar culto à natureza e comunicar-se com seus
semelhantes (NANNI, 1995).
Segundo Nanni (1995),
a dança é fruto da expressão do homem que através da pantomima e da mímica mais
primitiva, iniciou o processo de comunicação com seus semelhantes, com a
natureza e com as divindades.
Todo povo têm
suas formas de expressões corporais ou seja cerimônias especiais para
distinguir a mudança do papel social que o individuo está alcançando, estes vão
desde o nascimento até a morte em muitas sociedades. Dentre diversos tipos de
rituais de celebração, que vão desde provas de resistência física às mutilações
corporais, os ritos de passagem e celebração de adultos que alcançam nova
posição na sociedade, frequentemente são expectativas e exigências sexuais
representadas através da dança.
No país que
vivemos a mídia enfoca em grandes horários de audiência lindas e brilhantes
mulheres dançando nas TVs em horário nobre, passando assim a imagem de uma
pessoa como linda e sensual. A partir dai a foi criando-se uma cultura e
transformando a dança como sendo “coisa apenas para as mulheres” levando assim
os homens e crianças a tomarem certa distância dos conteúdos nas escolas
(MARQUES, 1997).
Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997) salienta que somos um país riquíssimo em
manifestações artísticas. Marques (1997) complementa relatando que os grupos e
trios elétricos dançantes tem em suas formações a grande prevalência de homens,
que levam à força, a identidade cultural e racial do nosso povo.
Ao longo da história da dança percebemos sua
importância na construção social humana. Luis XIV, dançou papéis importantes em
sua corte e foi glorificado como “Rei Sol”, aos 15 anos de idade, e
aristocracia aplaudia o nobre que dançava. Quando Luis XIV deixou suas
apresentações de dança, esta passou de social palaciana para gênero teatral
profissional; “a cultura ocidental, geralmente associou o homem que dança
profissionalmente com a efeminação e homossexualidade” ( HANNA, 1999).
A herança
judaico cristã passou a excluir mulheres de seus papeis religiosos e públicos
passando-se assim todas elas para um teatro secular, as mulheres educadas bem
vestidas nunca podia sonhar em dançar nem menos aparecer nos palcos públicos,
assim os homens era quem dançavam todos vestidos de travestis. Esses homens eram
bem mais virtuosos tendo sempre suas danças muito respeitadas (HANNA, 1999).
Conjugados ao
conhecimento, o corpo que dança chama a atenção para a sexualidade e desperta
as emoções. Sendo assim, uma grande gama de homossexuais são atraídos pela dança,
pois, o mundo da arte oferece a eles uma oportunidade para libertar e expressar
a sensibilidade estética emocional e erótica, um isolamento da sociedade que em
parte os rejeita, um espaço para a corte e uma arena que pode tratar de suas
angustias e interesses (HANNA, 1999).
Quando paramos
para refletir ao ver uma mulher dançando são poucas as pessoas ao redor que
olham, mas quando um homem dança chama a atenção de todo mundo que estar por
sua volta, tornando assim um especial das minorias.
Dança e implicações de gênero: aspectos da
cena histórica
Na educação e na sociedade de forma geral a
dança tem uma tradição de marginalidade, do ponto de vista dos interesses
científicos e políticos que possa despertar, devido a serem considerados seus
conteúdos supérfluos, e isso não é uma exclusividade de poucos países na
cultura ocidental.
Apesar disso, no contexto sócio-cultural, de
forma geral, a dança é uma das manifestações de movimento mais apreciadas entre
crianças, jovens e adultos e ela se dissemina em tantas e variadas formas
(ballet, jazz, folclore, popular, de salão, terapia, religiosa, etc.) que lhe é
quase impossível, em uma ou noutra forma, fugir à identificação cultural e à
apreciação de qualquer pessoa. Como afirmam Kraus e Chapman (1981) A dança em
uma ou outra de suas formas, apela a todas as classes sociais e abrangendo
plenamente níveis do gosto artístico. Algumas danças são centenárias, outras
apareceram ontem.
A dança tem recebido uma importante
parte de nossa experiência cultural, recreacional e educacional . No Brasil,
como em outros países, os fenómenos que têm ajudado a popularizar a dança entre
os jovens são, a partir da década de 70, os filmes americanos que – na mesma
esteira de difusão dos musicais da Broadway, das décadas de 50 e 60 –
difundiram o jazz; na década de 80, a dança de rua ou hip-hop2; e na década de
90, a dança de salão.
Além disso, outros fenómenos que vem
contribuindo para a popularização da dança são os festivais de dança que, a
partir dos anos 80, cresceram de forma vertiginosa, nas mais diversas regiões
do Brasil, a exemplo do que é considerado um dos maiores festivais de dança do
mundo, o Festival de Dança de Joinville-SC. A proliferação desses festivais fez
ampliarem-se, não só os espaços de encenação e apreciação da dança, como também
os de discussão sobre ela, o que reafirma sua presença e importância como
fenómeno social, apesar da sua marginalidade no âmbito da formação.
Uma das discussões sempre presentes é
sobre seu espaço de ensino e quanto à isso, na educação escolar brasileira, a
dança, entendida como âmbito da educação corporal e enquanto manifestação de
cultura de movimento. A reciprocidade de interferências entre corpo e dança é resultante de condições sóciohistóricas
construídas, É preciso relativizar, todavia, o aspecto da rejeição ao dançar, à
medida que, “racionalmente”, a maior parte dos homens também “aprecia” a dança
e, em alguns casos, são mais receptivos a falar sobre ela do que as mulheres.
De forma bastante clara o que se observa na
maioria dos meninos e homens e, também, por parte das meninas e mulheres que
não gostam de dançar, é um misto de sofrimento e vergonha que leva à uma
retracção ao ato de dançar. Para além das dificuldades de praticar a dança por
falta de conhecimentos técnicos e por falta de coordenação motora, como dizem
estudantes homens e mulheres, mas a maior parte homens, reconhecem terem
dificuldades por conta da inibição, o medo de enfrentar outros olhares ao
dançar.
Além disso, a análise das perspectivas
dos homens em relação à dança tem revelado que as suas resistências na
experiência/vivência da dança estão relacionadas com o fato de serem
confrontados com suas exigências para tal, no sentido das competências, e
respectivas “incompetências”, que a cultura masculina vivenciada até então lhes
tem exigido (Saraiva, 1999, e. o.). Isto é, historicamente desenvolveu-se uma
cultura masculina que tem exigido uma instrumentalização técnica de movimento
que corresponde ao movimento objectivo/racional da sociedade, conforme a imagem
corrente dos padrões de rendimento masculino e, com isso, tem excluído da
vivência de movimentos masculinos a expressividade corporal, a disponibilidade
à emoção, ao afecto, à percepção rítmica, diametralmente opostas à manifestação
do corpo disciplinado (Foucault, 1988), dominado e reificado da modernidade
industrial.
Mas o que significa, especificamente,
essa rejeição manifesta por meninos e homens à prática da dança e essa
aceitação maior por parte das meninas e mulheres, no contexto sócio-cultural?
Considerando-se que as formas de ser
humanas estão culturalmente enraizadas e que a nossa corporeidade é
profundamente mediada de forma social e simbólica (Bordieu, 1998), torna-se
necessário um “olhar” no contexto sócio-cultural em que se desenvolve a corporeidade
e as suas respectivas formas de manifestação por homens e mulheres.
Fritsch (1988) afirma que “a dança
desperta não apenas sentimentos de prazer e euforia, mas também estranheza e um
certo sofrimento ao contacto” (p.77), o que a faz indagar sobre essa relação
entre a vergonha e a dança, consequentemente, entre a vergonha e a
corporeidade, em especial a corporeidade na dança
Segundo Simmel (in Fritsch, ibid.), a
vergonha é experimentada quando se dá a acentuação do Eu, da interioridade do
ser, especialmente se nesse ato o Eu se choca contra uma norma ou um ideal,
pois as outras pessoas sempre poderão atribuir juízos, conforme valores
estabelecidos, àquela parte de nós mesmos que sentimos como “objecto”, passível
de avaliação.
O ser para si mesmo sujeito e objecto
constitui a dialéctica da formação da pessoa nas condições objectivas e
subjectivas do seu meio, onde ela é um agente activo, mas ao mesmo tempo
passível de dominação e no que ela vive sempre distante de si e pode ao mesmo
tempo observar-se a si mesmo (cf. Plessner, in Fritsch, 1988). Nisso, a
aparência corporal não consegue fugir do olhar observador e é, evidentemente,
um ponto de referência especial da inibição, pois alvo de
auto-controle/crítica, regulada por normas e ideais preconcebidos, aos outros e
aos próprios olhos. Toda situação susceptível de transgressão dessas normas e
valores desperta mecanismos de protecção, entre os quais a vergonha aflora mais
facilmente nas relações entre os sexos, como afirma também Fritsch (ibid.),
estabelecendo situações embaraçosas especialmente entre os jovens na puberdade.
A
vergonha, assim, é um dos mecanismos de ocultação do Eu que se mostraria no
dançar, ou face à dança, por ser um fenómeno de vivência una, total. Isso não
acontece tão facilmente com os adultos que, ao longo de sua formação, já
erigiram uma couraça com a qual se reveste a segurança de conduta atingida.
Segundo Fritsch (ibid.), esse adulto nem sempre precisa de outros meios de
encobrimento/ocultação para livrar-se de situações embaraçosas, pois essa
couraça já existe, justamente na “conduta segura”, construída na relação
social, com a família, com a tradição,
com o conhecimento, com a linguagem, uma imagem que é pública e que corresponde
aos padrões estabelecidos/permitidos, conforme explicam, também, outras teorias
da socialização (Saraiva, 1999). No contexto social, o que é para nós pode ter
outro significado que para os demais, de forma que nós acabamos internalizando
o que fazemos como aquilo que os outros vêm em nós e vivenciamos nossas
próprias acções com “dissimulação”.
Como analisa Fritsch (1988), as
vivências imediatas se modificam nesse olhar estranho (próprio ou do outro),
que está pré-fixado na imagem instituída e a sensação de vergonha relativo ao
corpo e ao movimento seriam indícios de que no convívio com os outros não
conseguimos desviarmo-nos de uma objectivação da forma de ser às normas
sociais. Nosso ser íntimo se reprime frente ao nosso ser social e apenas na
esfera privada, participando com os outros e não sendo observado, nosso íntimo
consegue sentir-se protegido dessa objectivação.
A partir dessas elaborações, podemos
compreender formas de representação da corporeidade que são instituídas e
aceitas no contexto social. A compreensão do binómio movimento expressivo – movimento
objectivo componentes nas acções corporais é possibilitada pela análise do
significado da dança e do desporto no mundo contemporâneo. O desporto como tem
sido analisado pelas mais variadas áreas do conhecimento (filosofia, crítica
social, sociologia do desporto, antropologia, etc.) é indissociável da
compreensão de corpo e movimento no mundo contemporâneo e constitui parte
intrínseca da história social do corpo humano.
As análises psicológicas que Fritsch
(1988) aborda dizem que quando usamos uma representação de movimentos que se
baseia em padrões técnicos, consideramos que a observação não se faz sobre o
Eu, mas sobre as coisas e o rendimento técnico presente. Na dança, como já
vimos, o aparecimento do corpo é central pois a pessoa não se dirige ou se
relaciona a fins externos à sua acção, mas consigo mesma, em formas de
movimento extra-quotidianas, em trocas sequenciais de tensão e soltura,
encarnando sua própria mobilidade. Essas trocas sequenciais de tensão e
soltura, as formas ampliando-se e recolhendose, os gestos, o ritmo, as
interacções expressivas, caracterizam um simbolismo apresentativo não só
relacionado à emocionalidade, mas que é, para além disso, projecção de
vivências afectivas e socializadoras armazenadas.
Assim, no desporto, a pessoa se
apresenta numa acção que projecta a atenção a uma meta localizada “fora do
corpo” e, portanto, fora do sujeito, do EU. Por mais que a acção se localize no
corpo, este corpo-objecto não transcende o objectivo do se-movimentar para o
todo, o corpo-sujeito.
A
conduta desportiva é uma das couraças mais seguras que têm sido construídas
para se apresentar corporalmente no mundo objectivado. Na dança, de outra
forma, o comportamento expressivo fomenta a expressão do íntimo, o que orienta
os olhares objectivados para a única e indispensável contemplação/avaliação
disponível, a da pessoa que dança.
Devemos considerar um outro aspecto do
dançar, abordado por Fritsch (1988), que se relaciona às acções objectivas do
se representar no mundo contemporâneo e que faz aflorar a vergonha num outro
nível de pré-disposição. Ela se refere às vivências nos contextos específicos
como a escola de dança, os bailes, as discotecas, onde a dança nem sempre
proporciona o tipo de participação expressiva que comporta a manifestação do
EU, pois aqui as formas de dança e de movimento estão padronizadas, a
auto-expressão previamente estabelecida e a pessoa se depara com formas de
danças institucionalizadas e apropriadas para tal. Nesses ambientes, as pessoas
estão de forma voluntária, pelo seu interesse em dançar, e a vergonha de dançar
pode emergir pelo confrontar-se com a falta de habilidade pré-requisitada por
aquela forma de movimento institucionalizada. Isso “significa não
disponibilizar dos meios de encobrimento de um sistema de símbolos socialmente
padronizados” (Fritsch, 1988, p.82), que também aciona aquele Eu critico
plantado no ser como projeção do olhar crítico do outro. Através desse olhar,
como sabemos, a confrontação dos aptos com os não aptos, pode tornar estes
risíveis.
No contexto convencional das ações e
movimentos objetivados, como as aulas de EF, onde o desporto ainda é o modelo
de ação a ser perseguido (Saraiva, 1999; Fritsch, 1988; e. o.), a dança não é
um fenómeno de fácil aceitação, pois transformar-se em um corpo que dança é uma
exigência que leva a necessidade de desfazer-se da segurança da conduta
desportiva – um comportamento socialmente viável, fomentado e apreciado – e
iniciar-se numa outra forma de ser.
A notória carência da dança nos
contextos formais de ensino, incluindo-se o universitário, acarreta que
crianças, adolescentes e adultos, em geral, não experimentam o comportamento
expressivo (acontecimento corporal sensual-expressivo que pode despertar
momentos íntimos, particulares) e, consequentemente, a dança aparece-lhes como
um comportamento fora dos padrões habituais, como estranha e impeditiva de
manifestações corporais objectivas. Sabe-se que estudantes e professores de
educação física ocupam-se intensamente com modalidades desportivas socialmente
aprovadas e com as quais se identificam. Fritsch (1988) observou na sua
investigação que, quando estudantes e professores da área do desporto referem
às suas experiências com dança, rapidamente ressalta a experiência do ser outro
em dança, manifesta pelos homens mais frequentemente do que pelas mulheres.
Nesse sentido, o que acontece com essa
indisposição para a dança, pode esclarecer, que as experiências corporais e de
movimento não são quaisquer e simples natureza privada, porém encontram-se
sempre em situações, às quais estão aderidos significados sociais, que tem o
carácter dos fatos sociais e que se impõem ser. Na incorporação de estruturas
sociais (Bordieu, 1998) formam-se movimentos e atitudes típicas e isso
significa também uma limitação e um processo de exclusão de outras
possibilidades, sem que isso seja, necessariamente, aceito conscientemente.
A análise da predisposição à vergonha
presente na dança, como abordado por Fritsch (1988) evidencia a necessidade de
compreendermos melhor os significados de dança e corpo na perspectiva cultural.
Como a autora menciona, esse fenómeno não se sustenta em fundamentações
antropológicas para explicar outras culturas. Para os africanos, por exemplo, a
dança é representação pública de movimento e concepções da intimidade e as
fronteiras da vergonha nessa cultura, não são comparáveis aos elementos da
cultura ocidental. Certamente, para eles, configura-se aquela outra relação
existencial com a realidade. A dança não somente é reconhecida socialmente,
como faz parte da vida social. Isso significa, sim, que o fenómeno da vergonha
de dançar é significativo para a nossa sociedade e, sobretudo no contexto
social de desportistas, de estudantes e professores de EF.
A hegemonia do desporto, especialmente
na situação de ensino e aprendizagem das culturas de movimento, tanto nas
escolas como nas Instituições do Ensino Superior, por um lado, e a
“marginalidade” da dança, como não significativa, como “coisa” privada, penosa
e irritante na escola, por outro, são significados descritivos que impregnam no
senso comum e como tal determinam quais e como devem ser os movimentos
representativos convencionais.
Em nossa sociedade, a corporeidade e o
movimento são extremamente impregnados por uma padronização que é orientada em
normas de conduta e representações sociais. Nestas integram-se formas de
movimentos que se relacionam às qualidades e/ou características respectivas ao
sexo das pessoas que as desenvolvem, se homem ou mulher, acarretando que às
diferentes posturas corporais e representações do corpo na dança e no desporto
tendem à corresponder disponibilidades corporais tradicionalmente atribuídas ao
homem e à mulher: a disponibilidade à expressão, ao corpo feminino, e a
disponibilidade ao domínio e impermeabilidade, ao corpo masculino.
Essas diferentes disponibilidades se
constroem conforme nossas experiências objectivas e subjectivas ao longo da
vida e para compreender e explicar possibilidades de manifestações da dança e
de vivência da alteridade na perspectiva de género, no contexto social de hoje,
torna-se necessária uma rápida revisão de como se formam objectivamente e
subjectivamente as representações histórico-culturais do corpo e as
possibilidades históricas da constituição de género. Para tanto, vamos
adentrar, primeiro, na compreensão de género, um conceito que aponta o
“carácter implicitamente relacional do feminino e masculino” e pode nos ajudar
a “captar a trama das relações sociais na qual as relações de género têm lugar”
(Sousa, 1997, p. 27-8).
Género: um conceito multireferencial para
compreensão de masculino-feminino
O corpo pático da dança parece
corresponder, no senso comum, à forma de ser das mulheres e o corpo racional, à
forma de ser dos homens, mas essas
atribuições do senso comum são eco do recurso tomado pela cultura ocidental de
perguntar-se pela natureza de tudo que se pretende apreender (Gonçalves, 2000),
ignorando-se, aparentemente, a força da cultura sobre a própria natureza.
No entanto, tanto uma quanto a outra – a
força da cultura e a condição natural – têm sido “reivindicadas” entre as
teorias e métodos feministas, de estudos da mulher, de estudos de gênero, etc.,
que se enquadram em discursos modernos ou pós-modernos, elaborando diferentes
compreensões possíveis da construção de identidade e de relações do gênero.
Muitas teorias, como expostas por Scott (1988); Sorj (1992); Dias (1992); e
Benhabib e Cornell (1987), entre outras, destacam o papel social das mulheres e
a crise das relações de gênero desencadeada na modernidade, como o cerne dos
desdobramentos que apontam para as possibilidades de transformação.
À revelia desse papel ser reforçado em
todas as teorias, muitas são as incertezas, controvérsias e divergências sobre
a natureza do estudo. Por exemplo, Strey (2000) diz que a Psicologia se
desdobra, entre os posicionamentos que adoptam as “explicações psicológicas
internas ou intrapsíquicas para as desigualdades sociais" (p.13) – a
psicologia das mulheres – e os que reconhecem que essas explicações só podem ser
balizadas na compreensão de uma construção social – a psicologia social.
Em geral os estudos da dança, se dizem
pós-modernos, por serem estudos “culturais”. Sobre a discussão do
pós-modernismo e pós-estruturalismo remetemos a Butler (1998). entendermos que as mudanças de comportamento,
podem ser mais imediatas, pois podem se dar pela imposição de regras e leis, e
que as mudanças de atitudes, exigem longo prazo pois acontecem no processo de
socialização familiar ou estratégias educacionais.
O conceito de gênero, como explicam
Scott (1995), Sorj (1992) e Ferreira (2000), entre outras (e outros) refere-se
à masculinidade e feminilidade, socialmente convencionadas, em contraste com a
noção de sexo, que define homem e mulher pelo seu equipamento biológico. Isto
quer dizer que ...
há
uma representação social do sexo que se estratifica num esquema complexo de
associações comummente partilhadas de certos valores, atitudes, expectativas e
comportamentos, atribuídos quer a homens quer a mulheres. O gênero é essa categorização
vivida e imposta, que leva à identificação de determinados indivíduos
considerando-os enquanto pertencentes a um conjunto homogêneo. Ele surge como
um constructo social e cultural que normaliza os comportamentos esperados por
parte de homens e mulheres. O sexo é dado, constituindo-se biológica e
fisiologicamente na dualidade/complementaridade e oposição. O gênero é
construído, apresentando-se como a determinação simbólica do modo como o sexo
se encara e se vive numa dada cultura (Ferreira, 2000, p.49).
Todavia, Ferreira (2000) constata que o
conceito está longe de ter unanimidade, assim como se verifica que a
unanimidade do conceito, onde existe, também não garante a unanimidade das
explicações em torno de suas aplicações, no que diz respeito, por exemplo, à
utilização da diferença sexual, ou das mulheres, ou ainda da relação homem mulher,
entre tantos outros termos que têm sido debatidos nesse campo. Isso se refere à
importância do que colocar em questão no debate Gênero e que remete, por exemplo,
ao fato de existir um feminismo que realça a feminitude, segundo Machado
(1992), procurando dar visibilidade às mulheres, em suas habilidades próprias e
seus espaços de representação social, enquanto outras teorias criticam essa
atitude, justamente, por não “desconstruir” uma oposição binária
masculino-feminino, construída, entre outras asserções, nas relações de poder e
no discurso patriarcal.
Uma da referências que tem sido
importante para se compreender o gênero é Scott (1995 e 1999), uma das/dos autoras/autores
que encontra na teoria pós estruturalista a possibilidade de pensar
pluralidades, a diversidade, em lugar de unidades universais; de articular
moldes de pensamento alternativos sobre o gênero, portanto de maneiras de
atuar.
Scott (1999) apresenta com muita
propriedade alguns pressupostos importantes para o pós-estruturalismo, na
questão de gênero, entre os quais a discussão dos conceitos de igualdade e de
diferença, como princípios organizadores para a ação política. A autora afirma
que esses conceitos têm sido colocados, também, em oposição no debate feminista
pretendendo oferecer uma eleição à apoiar a igualdade ou sua suposta antítese,
a diferença: a igualdade, assim, se referiria ao social, escola, emprego,
tribunais, etc., desconsiderando ai a diferença sexual, e a diferença, seria
reivindicada em favor das mulheres, seus interesses, necessidades, etc.,
configurando-se uma antítese entre esses dois conceitos, que tornaria inviável
a aceitação da igualdade na diferença. Cremos que esses dois conceitos são
pontos fulcrais na compreensão das possibilidades de gênero como análise da
construção históricas das desigualdades e consequente desconstrução das mesmas,
com respeito às diferenças.
Como bem expõe Scott (1999)
Quando
a igualdade e diferença se discutem dicotomicamente, estruturam uma eleição
impossível. […] Nós, as feministas, não podemos renunciar à ´diferença`; tem
sido nossa ferramenta analítica mais criativa. Não podemos renunciar à
igualdade, ao menos quando desejemos nos referir aos princípios e valores de
nosso sistema político. […] …é preciso desmascarar a relação de poder
construída ao colocar a igualdade como a antítese da diferença, e é preciso
rejeitar as consequentes construções dicotómicas nas decisões políticas.
(p.217)
Importante nas elaborações de Scott
(1999) é a noção de que pressupor politicamente a igualdade é reconhecer que
existam diferenças e de que não se reivindica a semelhança ou a identidade
entre mulheres e homens, mas “uma mais
complicada diversidade (historicamente variável) do que a permitida pela
oposição mulher/homem, uma diversidade que também se expresse diferentemente
para propósitos diferentes em contextos diferentes” (p.219).
Todavia, Scott (1995), tal como
Sarraceno (1999), Mouffe (1999) e outras/outros, são contundentes na adoção do
conceito de gênero, o qual serve exclusivamente como possibilidade de análise
histórica – uma "definição social
imposta sobre um corpo sexuado" (Scott, 1995, p.75) – rejeitando
explicitamente explicações biológicas, a diferença sexual, como princípio
constituinte da mulher ou do homem, como sujeitos, pois isso leva implícita a
suposição de que a partir dessa diferença se dão os interesses, os pontos de
vista do mundo, da política, etc., constituindo-se, então, pensamentos e
perspectivas, autônomos para ambas as partes.
Essas autoras incompatibilizam com
outras/outros feministas, mais ligados no fato de que o trabalho de cuidar seja
característico das mulheres, como também considera Stinson (1995) em sua
proposta de uma pedagogia feminista para a dança.
Para Saraceno (1999), afinada nos
pressupostos de Scott, a dificuldade e a parcialidade …com que se reconhece o valor material e simbólico do trabalho de
cuidar não está […] no fato de que um homem é um homem e uma mulher é uma
mulher e que suas culturas são radicalmente diferentes e sim, por um lado, na
divisão do trabalho e, por outro, na distribuição do reconhecimento e do poder
(p.76).
A autora se centra, assim, no conflito
de poder entre os sexos – e mesmo reconhecendo os âmbitos da sexualidade e o da
procriação como legítimos para “razões de parte” – diz que esses “não podem
constituir o principio de um direito e de formas de cidadania radicalmente
diferentes para ambos os sexos” (idem, p.79).
Propõe assim, “desarmar” e não reconstruir os
modelos da diferença, clamando pela explicitação das diferenças socialmente
produzidas, num posicionamento pertinente ao “locus” de análise da sua
referência, como o direito laboral, onde a diferença é tratada de forma positiva
para legitimar o protecionismo. Assim, interessa-se pela aproximação sexuada ao
conhecimento e à política que “vê” e tenta desconstruir, nos níveis simbólico e
prático, o modo em que está constituída a diferença sexual nos diversos e
específicos âmbitos.
Desconstruir nos níveis
simbólicos a constituição das diferenças é o que propõe, também, Galcerán
(2000) numa análise aproximada com todos os feminismos (feminismo da igualdade,
feminismo da diferença, ecofeminismo) que tentam a ruptura com a naturalização
da mulher. Esta autora aponta para a função da reprodução humana, que serviu ao
discurso patriarcal da dominação, numa frutífera exposição para desatar um dos
“nós” do essencialismo: …essa capacidade
é biológica, quer dizer, está ligada aos caracteres sexuais dos indivíduos; é
social, dado que supõe uma conjunção de diversos indivíduos, pelo menos dois; e
é cultural-simbólica, pois estabelece determinados mecanismos de apropriação:
reconhecimento por parte do pai, doação por parte da mãe, inscrição e enquadramento
social do recém-nascido, etc. Supõe que os pais biológicos assumam a função de
pais sócio-simbólicos, o que, contra tudo o que pudesse parecer, é tudo menos
natural (p.44)
Assim, a autora diz que as funções de
pai e mãe são sociais, revertendo a fatal possibilidade da identificação ter
suas raízes cristalizadas na relação biológica do nascimento, mas sim numa
relação que é alem de social, é cultural-simbólica.
Tal hipótese vem de encontro com uma das
possibilidades propostas pela Psicanálise Feminista (Balbus, 1987) que, busca
uma possível desconstrução da identidade masculina desfigurada pela separação
da mãe, acenando com uma mudança de comportamento cultural, que traz
contribuições para as mudanças de relações de género, na participação dos pais
nos cuidados dos bebés:
…quando
os homens, em virtude de sua cumplicidade nessa combinação, não forem mais
disponíveis como refúgios impecáveis e superidealizados do poder materno será
possível a todos nós liquidar, e superar, o ressentimento que restaria, mas que
não mais seria dirigido a um sexo apenas (p. 124).
Postada em 08.06.2020
Receber em 12.06.2020
1-
Sobre o assunto Gênero
e Dança explique com suas
palavas o conceito de
gênero .
2-
Qual sua opinião sobre
a Dança e
a participação do sexo masculino
em aulas
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário