domingo, 7 de junho de 2020

EDUCAÇÃO FÍSICA - SEMANA DE 08 A 12 DE JUNHO



Em prosseguimento ao conteúdo ,  o texto abaixo traz informações  sobre  a Gênero  e  Dança. Alguns  assuntos ,como  este, não será possível  compreender sem leitura e  discussão por  isso o texto é um pouco  extenso.Procure  ao iniciar a leitura  concentrar-se, procurando um local da casa com menos  interferência de  ruídos possível.  Evite  ouvir  música  e  responder mensagens. Leia  com  atenção e  responda a  atividade ao final  do  texto. Não esqueça de ao enviara  atividade  colocar  as  devidas identificações : nome  completo  e  turma  além  de  colocar  as  perguntas  e  respostas  e  deixar  no  caderno.
  Caso envie  em forma  de imagem verifique  se está   nítida e Encaminhar  para o email lucianadps888@gmail.com.
 Duvidas  podem ser  enviadas pelo email ou pelo watsap no privado . não deixe  de  enviar também as  atividades  em  atraso. Lembrando que  elas  são a  forma de validar  a sua  presença na disciplina.

Introdução

    Gênero é mais entendido por muitos povos como, a diferença entre homens e mulheres, meninos e meninas. Gênero é entendido como a construção social que uma dada cultura estabelece ou elege em relação a homens e mulheres (SOUSA; ALTMANN, 1999).
    Parando para observarmos os fatores que mais gera a feminilidade são as formas de tratamento de como as mesmas são tratadas dentro de suas casas, os sentimentos maternais, atividades desenvolvidas dentro de casa (domésticas), formas de falar com mais carinho e afetividade com gestos femininos. Quando se fala do homem, é sempre mais visto como o ser de coragem, o homem de mais força, capaz de exercer funções que não mais é apropriada para as meninas  e nessa concepção se enquadra  também os  movimentos corporais alguns  ditos inadequados  para  um sexo  ou para  outro ambos.
    Louro (1992) afirma que todo movimento corporal é distinto para os dois sexos, e muitos movimentos e posturas são socialmente impostos para um e para o outro sexo, as noções de feminilidade e masculinidade são construções sociais desde o nascimento da criança.
 Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino também evoluiu  nessa concepção determinando   que o  objetivo para  ambos os  sexos  é serem capazes de: “participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si e dos outros, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais” (PCN’s, 1997).
Nesse  contexto refletir  sobre a  dança  e  gênero nas   é de  fundamental  importância pois  a  dança além de ser uma  manifestação  corporal muito antiga agrega a  sua prática benefícios  a  saúde  a qual idade  e  gênero.
    1.     Refletindo sobre dança  e Gênero
    A dança muito das vezes é tido como movimento corporal que deve ser exercido somente por meninas, mas a dança pode ser considerada uma possibilidade de expressão devido aos seus métodos criativos e expressivos. A dança na vida dos homens primitivos tinha uma diversidade de significados como: dançava-se para imitar o ritmo da natureza, dançava-se para comemorar a colheita, saudação aos deuses, comemorações de casamentos, passando por vários momentos de transformações em conjunto com a sociedade, que hoje, tem a dança como opção de lazer e aspectos profissionais (NANNI, 1995).
    A mesma contribui para a socialização do indivíduo, levando a criança a compreender suas capacidades de movimento, passando assim a entender melhor como funciona o seu próprio corpo, desenvolvendo suas expressões, criatividades tornando assim elas seres mais capazes de socializarem no meio em que elas vivem (meio social).
    A nova visão da dança, em seu aspecto cultural, é um conteúdo indispensável na escola, pois sua contribuição é favorecer a formação da cidadania, tornando nossos alunos cidadãos críticos sensíveis e conscientes de suas ações na sociedade (BARRETO, 2004).
    Grande fonte de expressão corporal a dança deve ser bem trabalhada para que haja um grande desenvolvimento das potencialidades humanas, devido a seus métodos criativos e expressivos. É também grande fonte de riqueza quando tratamos de costumes e culturas entre os povos, fazendo com que as pessoas conheçam e aprendam culturas diferentes (SILVA, 2007). A dança pode unir povos, descobrir culturas e acabar com preconceitos pequenos, quando voltados assuntos sobre questões de gêneros. A escola é uma das bases para essa transformação, para isso ela deve iniciar uma luta contra esse preconceito em que a dança é algo somente para meninas.
   Apontamentos da dança - Historia
    Segundo vários estudos, a dança chega a ser é tão antiga quanto a nossa vida humana, dança esta que nasceu de expressão, emoções primitivas, nas manifestações e nas comunhões místicas entre homens com a natureza. Como ainda não sabia falar o homem utilizava das expressões corporais para expressar suas emoções e assim fazia presente em vários rituais místicos e acontecimentos de sua vida.
    Como ser social e religioso, o homem sempre sentiu a necessidade de se comunicar com seus semelhantes e com os poderes sobrenaturais, e para isso, antes de dominar a linguagem e antes então da expressão oral o meio de excelência de comunicar notícias, idéias e sentimentos, recorreu ao próprio corpo para estabelecer contato com as divindades, prestar culto à natureza e comunicar-se com seus semelhantes (NANNI, 1995).
    Segundo Nanni (1995), a dança é fruto da expressão do homem que através da pantomima e da mímica mais primitiva, iniciou o processo de comunicação com seus semelhantes, com a natureza e com as divindades.
    Todo povo têm suas formas de expressões corporais ou seja cerimônias especiais para distinguir a mudança do papel social que o individuo está alcançando, estes vão desde o nascimento até a morte em muitas sociedades. Dentre diversos tipos de rituais de celebração, que vão desde provas de resistência física às mutilações corporais, os ritos de passagem e celebração de adultos que alcançam nova posição na sociedade, frequentemente são expectativas e exigências sexuais representadas através da dança.
    No país que vivemos a mídia enfoca em grandes horários de audiência lindas e brilhantes mulheres dançando nas TVs em horário nobre, passando assim a imagem de uma pessoa como linda e sensual. A partir dai a foi criando-se uma cultura e transformando a dança como sendo “coisa apenas para as mulheres” levando assim os homens e crianças a tomarem certa distância dos conteúdos nas escolas (MARQUES, 1997).
    Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) salienta que somos um país riquíssimo em manifestações artísticas. Marques (1997) complementa relatando que os grupos e trios elétricos dançantes tem em suas formações a grande prevalência de homens, que levam à força, a identidade cultural e racial do nosso povo.
       Ao longo da história da dança percebemos sua importância na construção social humana. Luis XIV, dançou papéis importantes em sua corte e foi glorificado como “Rei Sol”, aos 15 anos de idade, e aristocracia aplaudia o nobre que dançava. Quando Luis XIV deixou suas apresentações de dança, esta passou de social palaciana para gênero teatral profissional; “a cultura ocidental, geralmente associou o homem que dança profissionalmente com a efeminação e homossexualidade” ( HANNA, 1999).
    A herança judaico cristã passou a excluir mulheres de seus papeis religiosos e públicos passando-se assim todas elas para um teatro secular, as mulheres educadas bem vestidas nunca podia sonhar em dançar nem menos aparecer nos palcos públicos, assim os homens era quem dançavam todos vestidos de travestis. Esses homens eram bem mais virtuosos tendo sempre suas danças muito respeitadas (HANNA, 1999).
    Conjugados ao conhecimento, o corpo que dança chama a atenção para a sexualidade e desperta as emoções. Sendo assim, uma grande gama de homossexuais são atraídos pela dança, pois, o mundo da arte oferece a eles uma oportunidade para libertar e expressar a sensibilidade estética emocional e erótica, um isolamento da sociedade que em parte os rejeita, um espaço para a corte e uma arena que pode tratar de suas angustias e interesses (HANNA, 1999).
    Quando paramos para refletir ao ver uma mulher dançando são poucas as pessoas ao redor que olham, mas quando um homem dança chama a atenção de todo mundo que estar por sua volta, tornando assim um especial das minorias.
 Dança e implicações de gênero: aspectos da cena histórica
 Na educação e na sociedade de forma geral a dança tem uma tradição de marginalidade, do ponto de vista dos interesses científicos e políticos que possa despertar, devido a serem considerados seus conteúdos supérfluos, e isso não é uma exclusividade de poucos países na cultura ocidental.
 Apesar disso, no contexto sócio-cultural, de forma geral, a dança é uma das manifestações de movimento mais apreciadas entre crianças, jovens e adultos e ela se dissemina em tantas e variadas formas (ballet, jazz, folclore, popular, de salão, terapia, religiosa, etc.) que lhe é quase impossível, em uma ou noutra forma, fugir à identificação cultural e à apreciação de qualquer pessoa. Como afirmam Kraus e Chapman (1981) A dança em uma ou outra de suas formas, apela a todas as classes sociais e abrangendo plenamente níveis do gosto artístico. Algumas danças são centenárias, outras apareceram ontem.
A dança tem recebido uma importante parte de nossa experiência cultural, recreacional e educacional . No Brasil, como em outros países, os fenómenos que têm ajudado a popularizar a dança entre os jovens são, a partir da década de 70, os filmes americanos que – na mesma esteira de difusão dos musicais da Broadway, das décadas de 50 e 60 – difundiram o jazz; na década de 80, a dança de rua ou hip-hop2; e na década de 90, a dança de salão.
Além disso, outros fenómenos que vem contribuindo para a popularização da dança são os festivais de dança que, a partir dos anos 80, cresceram de forma vertiginosa, nas mais diversas regiões do Brasil, a exemplo do que é considerado um dos maiores festivais de dança do mundo, o Festival de Dança de Joinville-SC. A proliferação desses festivais fez ampliarem-se, não só os espaços de encenação e apreciação da dança, como também os de discussão sobre ela, o que reafirma sua presença e importância como fenómeno social, apesar da sua marginalidade no âmbito da formação.
Uma das discussões sempre presentes é sobre seu espaço de ensino e quanto à isso, na educação escolar brasileira, a dança, entendida como âmbito da educação corporal e enquanto manifestação de cultura de movimento. A reciprocidade de interferências entre corpo e dança  é resultante de condições sóciohistóricas construídas, É preciso relativizar, todavia, o aspecto da rejeição ao dançar, à medida que, “racionalmente”, a maior parte dos homens também “aprecia” a dança e, em alguns casos, são mais receptivos a falar sobre ela do que as mulheres.
 De forma bastante clara o que se observa na maioria dos meninos e homens e, também, por parte das meninas e mulheres que não gostam de dançar, é um misto de sofrimento e vergonha que leva à uma retracção ao ato de dançar. Para além das dificuldades de praticar a dança por falta de conhecimentos técnicos e por falta de coordenação motora, como dizem estudantes homens e mulheres, mas a maior parte homens, reconhecem terem dificuldades por conta da inibição, o medo de enfrentar outros olhares ao dançar.
Além disso, a análise das perspectivas dos homens em relação à dança tem revelado que as suas resistências na experiência/vivência da dança estão relacionadas com o fato de serem confrontados com suas exigências para tal, no sentido das competências, e respectivas “incompetências”, que a cultura masculina vivenciada até então lhes tem exigido (Saraiva, 1999, e. o.). Isto é, historicamente desenvolveu-se uma cultura masculina que tem exigido uma instrumentalização técnica de movimento que corresponde ao movimento objectivo/racional da sociedade, conforme a imagem corrente dos padrões de rendimento masculino e, com isso, tem excluído da vivência de movimentos masculinos a expressividade corporal, a disponibilidade à emoção, ao afecto, à percepção rítmica, diametralmente opostas à manifestação do corpo disciplinado (Foucault, 1988), dominado e reificado da modernidade industrial.
Mas o que significa, especificamente, essa rejeição manifesta por meninos e homens à prática da dança e essa aceitação maior por parte das meninas e mulheres, no contexto sócio-cultural?
Considerando-se que as formas de ser humanas estão culturalmente enraizadas e que a nossa corporeidade é profundamente mediada de forma social e simbólica (Bordieu, 1998), torna-se necessário um “olhar” no contexto sócio-cultural em que se desenvolve a corporeidade e as suas respectivas formas de manifestação por homens e mulheres.
Fritsch (1988) afirma que “a dança desperta não apenas sentimentos de prazer e euforia, mas também estranheza e um certo sofrimento ao contacto” (p.77), o que a faz indagar sobre essa relação entre a vergonha e a dança, consequentemente, entre a vergonha e a corporeidade, em especial a corporeidade na dança
Segundo Simmel (in Fritsch, ibid.), a vergonha é experimentada quando se dá a acentuação do Eu, da interioridade do ser, especialmente se nesse ato o Eu se choca contra uma norma ou um ideal, pois as outras pessoas sempre poderão atribuir juízos, conforme valores estabelecidos, àquela parte de nós mesmos que sentimos como “objecto”, passível de avaliação.
O ser para si mesmo sujeito e objecto constitui a dialéctica da formação da pessoa nas condições objectivas e subjectivas do seu meio, onde ela é um agente activo, mas ao mesmo tempo passível de dominação e no que ela vive sempre distante de si e pode ao mesmo tempo observar-se a si mesmo (cf. Plessner, in Fritsch, 1988). Nisso, a aparência corporal não consegue fugir do olhar observador e é, evidentemente, um ponto de referência especial da inibição, pois alvo de auto-controle/crítica, regulada por normas e ideais preconcebidos, aos outros e aos próprios olhos. Toda situação susceptível de transgressão dessas normas e valores desperta mecanismos de protecção, entre os quais a vergonha aflora mais facilmente nas relações entre os sexos, como afirma também Fritsch (ibid.), estabelecendo situações embaraçosas especialmente entre os jovens na puberdade.
 A vergonha, assim, é um dos mecanismos de ocultação do Eu que se mostraria no dançar, ou face à dança, por ser um fenómeno de vivência una, total. Isso não acontece tão facilmente com os adultos que, ao longo de sua formação, já erigiram uma couraça com a qual se reveste a segurança de conduta atingida. Segundo Fritsch (ibid.), esse adulto nem sempre precisa de outros meios de encobrimento/ocultação para livrar-se de situações embaraçosas, pois essa couraça já existe, justamente na “conduta segura”, construída na relação social, com a  família, com a tradição, com o conhecimento, com a linguagem, uma imagem que é pública e que corresponde aos padrões estabelecidos/permitidos, conforme explicam, também, outras teorias da socialização (Saraiva, 1999). No contexto social, o que é para nós pode ter outro significado que para os demais, de forma que nós acabamos internalizando o que fazemos como aquilo que os outros vêm em nós e vivenciamos nossas próprias acções com “dissimulação”.
Como analisa Fritsch (1988), as vivências imediatas se modificam nesse olhar estranho (próprio ou do outro), que está pré-fixado na imagem instituída e a sensação de vergonha relativo ao corpo e ao movimento seriam indícios de que no convívio com os outros não conseguimos desviarmo-nos de uma objectivação da forma de ser às normas sociais. Nosso ser íntimo se reprime frente ao nosso ser social e apenas na esfera privada, participando com os outros e não sendo observado, nosso íntimo consegue sentir-se protegido dessa objectivação.
A partir dessas elaborações, podemos compreender formas de representação da corporeidade que são instituídas e aceitas no contexto social. A compreensão do binómio movimento expressivo – movimento objectivo componentes nas acções corporais é possibilitada pela análise do significado da dança e do desporto no mundo contemporâneo. O desporto como tem sido analisado pelas mais variadas áreas do conhecimento (filosofia, crítica social, sociologia do desporto, antropologia, etc.) é indissociável da compreensão de corpo e movimento no mundo contemporâneo e constitui parte intrínseca da história social do corpo humano.
As análises psicológicas que Fritsch (1988) aborda dizem que quando usamos uma representação de movimentos que se baseia em padrões técnicos, consideramos que a observação não se faz sobre o Eu, mas sobre as coisas e o rendimento técnico presente. Na dança, como já vimos, o aparecimento do corpo é central pois a pessoa não se dirige ou se relaciona a fins externos à sua acção, mas consigo mesma, em formas de movimento extra-quotidianas, em trocas sequenciais de tensão e soltura, encarnando sua própria mobilidade. Essas trocas sequenciais de tensão e soltura, as formas ampliando-se e recolhendose, os gestos, o ritmo, as interacções expressivas, caracterizam um simbolismo apresentativo não só relacionado à emocionalidade, mas que é, para além disso, projecção de vivências afectivas e socializadoras armazenadas.
Assim, no desporto, a pessoa se apresenta numa acção que projecta a atenção a uma meta localizada “fora do corpo” e, portanto, fora do sujeito, do EU. Por mais que a acção se localize no corpo, este corpo-objecto não transcende o objectivo do se-movimentar para o todo, o corpo-sujeito.
 A conduta desportiva é uma das couraças mais seguras que têm sido construídas para se apresentar corporalmente no mundo objectivado. Na dança, de outra forma, o comportamento expressivo fomenta a expressão do íntimo, o que orienta os olhares objectivados para a única e indispensável contemplação/avaliação disponível, a da pessoa que dança.
Devemos considerar um outro aspecto do dançar, abordado por Fritsch (1988), que se relaciona às acções objectivas do se representar no mundo contemporâneo e que faz aflorar a vergonha num outro nível de pré-disposição. Ela se refere às vivências nos contextos específicos como a escola de dança, os bailes, as discotecas, onde a dança nem sempre proporciona o tipo de participação expressiva que comporta a manifestação do EU, pois aqui as formas de dança e de movimento estão padronizadas, a auto-expressão previamente estabelecida e a pessoa se depara com formas de danças institucionalizadas e apropriadas para tal. Nesses ambientes, as pessoas estão de forma voluntária, pelo seu interesse em dançar, e a vergonha de dançar pode emergir pelo confrontar-se com a falta de habilidade pré-requisitada por aquela forma de movimento institucionalizada. Isso “significa não disponibilizar dos meios de encobrimento de um sistema de símbolos socialmente padronizados” (Fritsch, 1988, p.82), que também aciona aquele Eu critico plantado no ser como projeção do olhar crítico do outro. Através desse olhar, como sabemos, a confrontação dos aptos com os não aptos, pode tornar estes risíveis.
No contexto convencional das ações e movimentos objetivados, como as aulas de EF, onde o desporto ainda é o modelo de ação a ser perseguido (Saraiva, 1999; Fritsch, 1988; e. o.), a dança não é um fenómeno de fácil aceitação, pois transformar-se em um corpo que dança é uma exigência que leva a necessidade de desfazer-se da segurança da conduta desportiva – um comportamento socialmente viável, fomentado e apreciado – e iniciar-se numa outra forma de ser.
A notória carência da dança nos contextos formais de ensino, incluindo-se o universitário, acarreta que crianças, adolescentes e adultos, em geral, não experimentam o comportamento expressivo (acontecimento corporal sensual-expressivo que pode despertar momentos íntimos, particulares) e, consequentemente, a dança aparece-lhes como um comportamento fora dos padrões habituais, como estranha e impeditiva de manifestações corporais objectivas. Sabe-se que estudantes e professores de educação física ocupam-se intensamente com modalidades desportivas socialmente aprovadas e com as quais se identificam. Fritsch (1988) observou na sua investigação que, quando estudantes e professores da área do desporto referem às suas experiências com dança, rapidamente ressalta a experiência do ser outro em dança, manifesta pelos homens mais frequentemente do que pelas mulheres.
 Nesse sentido, o que acontece com essa indisposição para a dança, pode esclarecer, que as experiências corporais e de movimento não são quaisquer e simples natureza privada, porém encontram-se sempre em situações, às quais estão aderidos significados sociais, que tem o carácter dos fatos sociais e que se impõem ser. Na incorporação de estruturas sociais (Bordieu, 1998) formam-se movimentos e atitudes típicas e isso significa também uma limitação e um processo de exclusão de outras possibilidades, sem que isso seja, necessariamente, aceito conscientemente.
A análise da predisposição à vergonha presente na dança, como abordado por Fritsch (1988) evidencia a necessidade de compreendermos melhor os significados de dança e corpo na perspectiva cultural. Como a autora menciona, esse fenómeno não se sustenta em fundamentações antropológicas para explicar outras culturas. Para os africanos, por exemplo, a dança é representação pública de movimento e concepções da intimidade e as fronteiras da vergonha nessa cultura, não são comparáveis aos elementos da cultura ocidental. Certamente, para eles, configura-se aquela outra relação existencial com a realidade. A dança não somente é reconhecida socialmente, como faz parte da vida social. Isso significa, sim, que o fenómeno da vergonha de dançar é significativo para a nossa sociedade e, sobretudo no contexto social de desportistas, de estudantes e professores de EF.
A hegemonia do desporto, especialmente na situação de ensino e aprendizagem das culturas de movimento, tanto nas escolas como nas Instituições do Ensino Superior, por um lado, e a “marginalidade” da dança, como não significativa, como “coisa” privada, penosa e irritante na escola, por outro, são significados descritivos que impregnam no senso comum e como tal determinam quais e como devem ser os movimentos representativos convencionais.
Em nossa sociedade, a corporeidade e o movimento são extremamente impregnados por uma padronização que é orientada em normas de conduta e representações sociais. Nestas integram-se formas de movimentos que se relacionam às qualidades e/ou características respectivas ao sexo das pessoas que as desenvolvem, se homem ou mulher, acarretando que às diferentes posturas corporais e representações do corpo na dança e no desporto tendem à corresponder disponibilidades corporais tradicionalmente atribuídas ao homem e à mulher: a disponibilidade à expressão, ao corpo feminino, e a disponibilidade ao domínio e impermeabilidade, ao corpo masculino.
Essas diferentes disponibilidades se constroem conforme nossas experiências objectivas e subjectivas ao longo da vida e para compreender e explicar possibilidades de manifestações da dança e de vivência da alteridade na perspectiva de género, no contexto social de hoje, torna-se necessária uma rápida revisão de como se formam objectivamente e subjectivamente as representações histórico-culturais do corpo e as possibilidades históricas da constituição de género. Para tanto, vamos adentrar, primeiro, na compreensão de género, um conceito que aponta o “carácter implicitamente relacional do feminino e masculino” e pode nos ajudar a “captar a trama das relações sociais na qual as relações de género têm lugar” (Sousa, 1997, p. 27-8).
 Género: um conceito multireferencial para compreensão de masculino-feminino
O corpo pático da dança parece corresponder, no senso comum, à forma de ser das mulheres e o corpo racional, à forma de ser dos  homens, mas essas atribuições do senso comum são eco do recurso tomado pela cultura ocidental de perguntar-se pela natureza de tudo que se pretende apreender (Gonçalves, 2000), ignorando-se, aparentemente, a força da cultura sobre a própria natureza.
No entanto, tanto uma quanto a outra – a força da cultura e a condição natural – têm sido “reivindicadas” entre as teorias e métodos feministas, de estudos da mulher, de estudos de gênero, etc., que se enquadram em discursos modernos ou pós-modernos, elaborando diferentes compreensões possíveis da construção de identidade e de relações do gênero. Muitas teorias, como expostas por Scott (1988); Sorj (1992); Dias (1992); e Benhabib e Cornell (1987), entre outras, destacam o papel social das mulheres e a crise das relações de gênero desencadeada na modernidade, como o cerne dos desdobramentos que apontam para as possibilidades de transformação.
À revelia desse papel ser reforçado em todas as teorias, muitas são as incertezas, controvérsias e divergências sobre a natureza do estudo. Por exemplo, Strey (2000) diz que a Psicologia se desdobra, entre os posicionamentos que adoptam as “explicações psicológicas internas ou intrapsíquicas para as desigualdades sociais" (p.13) – a psicologia das mulheres – e os que reconhecem que essas explicações só podem ser balizadas na compreensão de uma construção social – a psicologia social.
Em geral os estudos da dança, se dizem pós-modernos, por serem estudos “culturais”. Sobre a discussão do pós-modernismo e pós-estruturalismo remetemos a Butler (1998).  entendermos que as mudanças de comportamento, podem ser mais imediatas, pois podem se dar pela imposição de regras e leis, e que as mudanças de atitudes, exigem longo prazo pois acontecem no processo de socialização familiar ou estratégias educacionais.
O conceito de gênero, como explicam Scott (1995), Sorj (1992) e Ferreira (2000), entre outras (e outros) refere-se à masculinidade e feminilidade, socialmente convencionadas, em contraste com a noção de sexo, que define homem e mulher pelo seu equipamento biológico. Isto quer dizer que ...
há uma representação social do sexo que se estratifica num esquema complexo de associações comummente partilhadas de certos valores, atitudes, expectativas e comportamentos, atribuídos quer a homens quer a mulheres. O gênero é essa categorização vivida e imposta, que leva à identificação de determinados indivíduos considerando-os enquanto pertencentes a um conjunto homogêneo. Ele surge como um constructo social e cultural que normaliza os comportamentos esperados por parte de homens e mulheres. O sexo é dado, constituindo-se biológica e fisiologicamente na dualidade/complementaridade e oposição. O gênero é construído, apresentando-se como a determinação simbólica do modo como o sexo se encara e se vive numa dada cultura (Ferreira, 2000, p.49).
Todavia, Ferreira (2000) constata que o conceito está longe de ter unanimidade, assim como se verifica que a unanimidade do conceito, onde existe, também não garante a unanimidade das explicações em torno de suas aplicações, no que diz respeito, por exemplo, à utilização da diferença sexual, ou das mulheres, ou ainda da relação homem mulher, entre tantos outros termos que têm sido debatidos nesse campo. Isso se refere à importância do que colocar em questão no debate Gênero e que remete, por exemplo, ao fato de existir um feminismo que realça a feminitude, segundo Machado (1992), procurando dar visibilidade às mulheres, em suas habilidades próprias e seus espaços de representação social, enquanto outras teorias criticam essa atitude, justamente, por não “desconstruir” uma oposição binária masculino-feminino, construída, entre outras asserções, nas relações de poder e no discurso patriarcal.
Uma da referências que tem sido importante para se compreender o gênero é Scott (1995 e 1999), uma das/dos autoras/autores que encontra na teoria pós estruturalista a possibilidade de pensar pluralidades, a diversidade, em lugar de unidades universais; de articular moldes de pensamento alternativos sobre o gênero, portanto de maneiras de atuar.
Scott (1999) apresenta com muita propriedade alguns pressupostos importantes para o pós-estruturalismo, na questão de gênero, entre os quais a discussão dos conceitos de igualdade e de diferença, como princípios organizadores para a ação política. A autora afirma que esses conceitos têm sido colocados, também, em oposição no debate feminista pretendendo oferecer uma eleição à apoiar a igualdade ou sua suposta antítese, a diferença: a igualdade, assim, se referiria ao social, escola, emprego, tribunais, etc., desconsiderando ai a diferença sexual, e a diferença, seria reivindicada em favor das mulheres, seus interesses, necessidades, etc., configurando-se uma antítese entre esses dois conceitos, que tornaria inviável a aceitação da igualdade na diferença. Cremos que esses dois conceitos são pontos fulcrais na compreensão das possibilidades de gênero como análise da construção históricas das desigualdades e consequente desconstrução das mesmas, com respeito às diferenças.
Como bem expõe Scott (1999)
Quando a igualdade e diferença se discutem dicotomicamente, estruturam uma eleição impossível. […] Nós, as feministas, não podemos renunciar à ´diferença`; tem sido nossa ferramenta analítica mais criativa. Não podemos renunciar à igualdade, ao menos quando desejemos nos referir aos princípios e valores de nosso sistema político. […] …é preciso desmascarar a relação de poder construída ao colocar a igualdade como a antítese da diferença, e é preciso rejeitar as consequentes construções dicotómicas nas decisões políticas. (p.217)
Importante nas elaborações de Scott (1999) é a noção de que pressupor politicamente a igualdade é reconhecer que existam diferenças e de que não se reivindica a semelhança ou a identidade entre mulheres e homens, mas “uma mais complicada diversidade (historicamente variável) do que a permitida pela oposição mulher/homem, uma diversidade que também se expresse diferentemente para propósitos diferentes em contextos diferentes” (p.219).
Todavia, Scott (1995), tal como Sarraceno (1999), Mouffe (1999) e outras/outros, são contundentes na adoção do conceito de gênero, o qual serve exclusivamente como possibilidade de análise histórica – uma "definição social imposta sobre um corpo sexuado" (Scott, 1995, p.75) – rejeitando explicitamente explicações biológicas, a diferença sexual, como princípio constituinte da mulher ou do homem, como sujeitos, pois isso leva implícita a suposição de que a partir dessa diferença se dão os interesses, os pontos de vista do mundo, da política, etc., constituindo-se, então, pensamentos e perspectivas, autônomos para ambas as partes.
Essas autoras incompatibilizam com outras/outros feministas, mais ligados no fato de que o trabalho de cuidar seja característico das mulheres, como também considera Stinson (1995) em sua proposta de uma pedagogia feminista para a dança.
Para Saraceno (1999), afinada nos pressupostos de Scott, a dificuldade e a parcialidade …com que se reconhece o valor material e simbólico do trabalho de cuidar não está […] no fato de que um homem é um homem e uma mulher é uma mulher e que suas culturas são radicalmente diferentes e sim, por um lado, na divisão do trabalho e, por outro, na distribuição do reconhecimento e do poder (p.76).
A autora se centra, assim, no conflito de poder entre os sexos – e mesmo reconhecendo os âmbitos da sexualidade e o da procriação como legítimos para “razões de parte” – diz que esses “não podem constituir o principio de um direito e de formas de cidadania radicalmente diferentes para ambos os sexos” (idem, p.79).
 Propõe assim, “desarmar” e não reconstruir os modelos da diferença, clamando pela explicitação das diferenças socialmente produzidas, num posicionamento pertinente ao “locus” de análise da sua referência, como o direito laboral, onde a diferença é tratada de forma positiva para legitimar o protecionismo. Assim, interessa-se pela aproximação sexuada ao conhecimento e à política que “vê” e tenta desconstruir, nos níveis simbólico e prático, o modo em que está constituída a diferença sexual nos diversos e específicos âmbitos.
Desconstruir nos níveis simbólicos a constituição das diferenças é o que propõe, também, Galcerán (2000) numa análise aproximada com todos os feminismos (feminismo da igualdade, feminismo da diferença, ecofeminismo) que tentam a ruptura com a naturalização da mulher. Esta autora aponta para a função da reprodução humana, que serviu ao discurso patriarcal da dominação, numa frutífera exposição para desatar um dos “nós” do essencialismo: …essa capacidade é biológica, quer dizer, está ligada aos caracteres sexuais dos indivíduos; é social, dado que supõe uma conjunção de diversos indivíduos, pelo menos dois; e é cultural-simbólica, pois estabelece determinados mecanismos de apropriação: reconhecimento por parte do pai, doação por parte da mãe, inscrição e enquadramento social do recém-nascido, etc. Supõe que os pais biológicos assumam a função de pais sócio-simbólicos, o que, contra tudo o que pudesse parecer, é tudo menos natural (p.44)
Assim, a autora diz que as funções de pai e mãe são sociais, revertendo a fatal possibilidade da identificação ter suas raízes cristalizadas na relação biológica do nascimento, mas sim numa relação que é alem de social, é cultural-simbólica.
Tal hipótese vem de encontro com uma das possibilidades propostas pela Psicanálise Feminista (Balbus, 1987) que, busca uma possível desconstrução da identidade masculina desfigurada pela separação da mãe, acenando com uma mudança de comportamento cultural, que traz contribuições para as mudanças de relações de género, na participação dos pais nos cuidados dos bebés:
…quando os homens, em virtude de sua cumplicidade nessa combinação, não forem mais disponíveis como refúgios impecáveis e superidealizados do poder materno será possível a todos nós liquidar, e superar, o ressentimento que restaria, mas que não mais seria dirigido a um sexo apenas (p. 124).


Postada em  08.06.2020
Receber em  12.06.2020

 Atividade :

1-      Sobre o  assunto  Gênero  e Dança  explique  com suas  palavas  o conceito  de  gênero .
2-      Qual  sua opinião  sobre  a   Dança  e  a  participação do sexo masculino em  aulas  .




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AULA E ATIVIDADE PROJETO DE VIDA 1º ANO

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